Páginas

domingo, 1 de maio de 2016

ainda na Lanterna

porque tá escuro e
ninguém me ouve

porque veio a noite e
eu não pude chorar

não há luz no túnel só
desesperados
nenhum cais de porto
onde eu preciso chegar

eu tô na Lanterna dos Afogados
eu tô te esperando
vê se não vai demorar

sábado, 14 de novembro de 2015

sexta 13

quanto vale?
quanto é que vale?
o sangue derramado pelo chumbo
a lama despejada pelo ferro

engolindo a seco
bebendo gasolina
a ganância, a fé, a ideologia
caminhamos a esmo

será que vale?
será mesmo que vale?
o sangue derramado pelo chumbo
a lama despejada pelo ferro

engolindo gasolina
bebendo a seco
a ganância, a fé, a ideologia
matamos a nós mesmos

contando os mortos sob o triunfo
chorando os mortos sob o lamaceiro
a ganância, a fé, a ideologia
valemos mesmo menos que o dinheiro?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Aurora

abra os olhos meu bem
meu benzinho
olha o dia
acabou de nascer

ele está te esperando
sorrindo
nessa vida nos resta
é viver

olha o sangue
na banca outra vez
olha o pão já
na mão do freguês

olha o dia nasceu
tá sorrindo
vamos lá
vamos tudo outra vez

a panela apitou
é pressão
olha o prato
e o preço do feijão

o dia passa tão
rapidinho
no Estácio e no meu coração

no teu rádio
toca ave maria
mas você já
nem pensa em rezar

só pensa
"já se foi mais um dia!"
e "o que vou fazer para o jantar?"

Requenta o feijão
joga água
não ta dando pra
desperdiçar

o sangue da banca
tá na tela
olha lá! olha lá!

mais um pouco
e tudo recomeça
mais um dia
que está pra nascer

ele já tá chegando
sem pressa
e também vai sorrir
pra você.

domingo, 10 de novembro de 2013

Você nem imagina


Tem muita coisa aqui dentro da minha cabeça
Você nem imagina quanta coisa eu posso guardar
Tem o seu endereço, o seu telefone, a senha do banco
Nossa música favorita, capitais de países, um trecho de filme
A receita da minha tia-avó com muito coentro pra temperar

Você nem suspeita de quantos segredos
De quantas confidências e quantos enigmas
Eu memorizei e já sei de cor
E não tem esfinge, não tem leprechaum,
Nem gênio da lâmpada ou buraco em tronco de árvore
Que saiba mais do que eu posso lhe contar

Ah, se você soubesse, se você pudesse ao menos contabilizar
A média do todo de estórias e contos que eu posso inventar
Na minha cabeça vagueiam dragões, piratas, corsários,
Grandes espiões, feiticeiros, mafiosos, criatura que bebem poções
Homens apaixonados, animais vingativos, mulheres guerreiras
Crianças prodígio, maestros e seus aprendizes
Que sobem e descem em castelos de ar

Na minha cabeça moram poesias que seguem tranquilas
Não ligam pra rima, nem entendem métrica
Não respeitam relógio, acham que tudo podem
E são elas mesmas que escolhem a hora em que querem brotar.

sábado, 5 de outubro de 2013

Samba torto

Saudade pôs
um samba em seu lugar
eu não sambei não
deixei pra lá...

a vontade aqui
foi de fazer um bafafá
mas eu não fiz não
deixei rolar...

que a Brahma ta gelada
pra quando você chegar
um brinde e muita farra
nós vamos comemorar

apressa esse passo
passa pro lado de cá
chega de saudade
chega de tanto penar

Saudade pôs
Um samba em seu lugar
E eu sambei sim
Pra relembrar

À vontade quis
Sambar e eu o fiz
Sambei até, então,
Me acabar

a Brahma ta gelada
pra quando você chegar
apressa esse passo
passa pro lado de cá

A porta está aberta
Pra quando você chegar
Samba comigo esse samba
E bota tudo no lugar!

domingo, 15 de setembro de 2013

Eu te quero.

Créditos da Imagem: weheartit.com


Eu te quero.
Mas, mais que te querer para mim,
Eu te quero bem.
E te quero para ti.

E se não me queres
Como eu o quero,
Que voe para longe...
De encontro àquela que te causa ardor.

Eu irei observar,
Te guardar de longe.
Feliz na minha dor, meu lamento.
Porque, meu amor... Eu te quero.

Eu te quero bem.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Triste favela

Ê favela né senzala!
Êêê favela né senzala!
Não é não!

Apesar do trabalho em troca de pão.
Apesar do açoite.
Apesar da miséria.
Apesar da fome
e do peso da noite.

Ê favela né senzala!
Êêê favela né senzala!
Não é não!

Apesar de sofrer e de ser
a carne mais barata.
Apesar do pesar.
Apesar da rotina pesada.

Ê mundo dá volta, Camará!
Tudo que bate volta, Camará!
Ê favela né senzala, Camará!